Gabar Mabote estreia-se em disco com Unganipoile

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Houve quem julgou que estivesse acabado e que as músicas tão tocadas nas rádios não chegariam a um disco compacto. Por longos anos, falar do músico equivalia a referir-se a um fragmento artístico do passado, portanto, acabado. Mas é como Lavoisier dizia, na natureza nada se perde, tudo se transforma. Como se quisesse dar eco às palavras do pensador francês, eis que, das cinzas, ressurge Gabar Mabote, uma voz autoritária quando se fala de música popular moçambicana, depois de tantas lutas travadas, sonhos e desistências. Neste regresso à ribalta, Gabar não vem com mãos vazias. Consigo, contra todas expectativas, inclusive suas, reaparece com Unganipoile, título do tão aguardado disco de estreia.

Unganipoile é composto por 14 músicas, das quais dez antigas (umas gravadas, outras longe disso) e quatro inéditas. A produção do álbum iniciou em Novembro do ano passado e foi todo produzido no país. Assim, num ano novo, Gabar Mabote prepara-se para concretizar o objectivo pelo qual lutou boa parte da sua vida: lançar um disco, no qual exprime seus mundos e suas entidades.
Com efeito, o lançamento do álbum será no dia 13 deste mês, no terminal dos transportes do bairro de Malhazine, a partir das 12h, de modo que as pessoas possam ter a possibilidade de comprar a obra e testemunhar o momento bem especial para o músico. E Gabar explica porquê. “Fiquei muito emocionado, quando vi os exemplares deste meu primeiro CD oficial. Há muito que aguardava por esta oportunidade e por este momento. É uma honra porque, quando comecei a cantar nas salas de cinema e nas casas de pasto fiz o meu nome, lá vão 30 anos. No entanto, mesmo assim, não consegui lançar o tão almejado álbum. Lembro-me que gravei músicas nos estúdios da Rádio Moçambique, em 1986, e houve tempos que tentei negociar a gravação de um disco meu. Não tive possibilidades e, a partir daí, comecei a afastar-me”.


Unganipoile, de Gabar Mabote, é um título muito intimista, com o qual o autor pretende passar uma clara mensagem. Unganipoile, traduzido do rhonga, significa não goze comigo, em alusão à sua condição. O título também é um alerta, para que as pessoas não gozem consigo porque as coisas podem mudar, mesmo não se tendo nada. E mudaram, de facto. Hoje, o autor de “Dana ndzole” mostra que com perseverança pode se chegar a algum lugar.

Neste CD, o foco de Gabar Mabote é emitir mensagens que sirvam às pessoas, com sugestão e crítica. Tal é o caso de “Mama wa Mateu”, que narra a estória de uma mulher que larga os filhos em Gaza para ir abraçar a prostituição na capital sem se preocupar com a condição dos petizes. É também o caso de “Lirandzo”, uma crítica às mulheres que acreditam que, recorrendo aos curandeiros, irão conseguir prender os maridos. Outros títulos do disco são: “Unganipoile”, que intitula o álbum, “Sala mamane”, “Ndjungua”, “Djokotane”, “Helenane”, “Lhupeco”, “Mantenga”, “Musotchua”, “Tintombe ni madjaha”, “Dana Ndzole”, “Tlanga upimela”, “Makhumba”.

Depois de lançar este primeiro álbum, Gabar Mabote espera que mais oportunidades apareçam porque ainda há muito a cantar. “Tenho uma bagagem que me está a pesar. Estava à espera desta oportunidade para descarregar em disco. Possuo muitas músicas porque nunca parei de compor. Se houver mais oportunidades, entro no estúdio e gravo temas com qualidade”.
Há mecenas em Malhazine
A gravação e o lançamento de Unganipoile é patrocinada pela PALVIC Ltda., parque de estacionamento localizado no bairro Malhazine, na cidade de Maputo. Na verdade, tudo começou numa conversa entre Gabar Mabote e Paulo Tinga, proprietário da instituição. A ideia é apoiar músicos da velha guarda e a PALVIC decidiu começar com Gabar porque acredita no seu potencial e porque o músico fez-se homem em Malhazine, onde vive.

“A empresa quer apenas projectar o músico, sem fins lucrativos, de modo que os seus temas possam ser escutados em álbum e, com isso, o músico possa conseguir algum sustento. Vale a pena apostar neste projecto, no caso de Gabar, porque possui músicas educativas, com mensagens importantes para as pessoas”, afirmou Paulo Tinga, prometendo que os próximos discos a serem lançados serão de Magid Mussá e Luís Macandza.


A capa e as fotos do disco de Gabar Mabote foram feitas por Virgílio Tinga (designer). A gravação esteve a cargo da De Novo Produções (duas músicas) e Humberto Benedito (duas músicas). As restantes 10 foram gravadas nos estúdios da Rádio Moçambique.

Fonte: O País

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